Wednesday, January 13, 2016

Onde Lendas Vivem

"Então você está nos deixando?" Ele pergunta, desolado.
"Chegou o momento, meu querido aprendiz." A resposta o atropela como um caminhão desgovernado. Não era nenhuma surpresa: sua mestra era uma lenda, tinha se tornado uma fazia o tempo de uma vida. Inspirava muitos pelo mundo inteiro com sua postura ilibada e presença imponente, além de sua altivez incomparável. Seu discípulo questionava-se frequentemente como alguém era capaz de deter tantos talentos e ser tão humilde. Tão grandiosa ao mesmo tempo tão acessível.
Tinha medo desse dia. Do dia em que ela abandonaria a todos.
"O que faremos sem você, Mestra?"
"O que quer dizer, meu discípulo?"
"Você influenciou tanto. Fez tanto por tanta gente." Havia um leve desespero em sua voz. "Você se tornou uma lenda ainda tão jovem, e continuou crescendo e mudando, tornando-se irreconhecível da pessoa que começou a jornada, ao mesmo tempo em que você ainda é a mesma que sempre foi.
"E você me acompanhou esse tempo todo. Você seguiu meus passos e deixou minha obra influenciar a sua. Sinto-me honrada.
"Mas sem você..."
"Eu cheguei a esse status tem muito tempo. Não estou cansada, por assim dizer, mas também não vejo mais o que posso oferecer a esse mundo." 
"Sem você..." Ele repete, melindroso. A expressão da lenda fecha-se em uma carranca, assustando o discípulo.
"Já não é hora de você e aqueles que também me seguem tornarem-se lendas também? Já não chegou a hora de escreverem suas próprias histórias?" Havia um desapontamento palpável em sua voz, como se previsse o que o pobre discípulo argumentaria.
"Não somos bons o bastante! Alguém como você só surge uma única vez durante o tempo de uma vida!"

"Então esse tempo já passou! Já é hora de alguém tomar o meu lugar! Que seja você, se assim o quiser! Que seja alguém com uma luz mais forte do que a minha!"
"Nós já perdemos tantas lendas! Por que temos que perder você também?"
"Porque é assim que funciona! Estamos aqui para inspirar aqueles que tomarão nossos lugares! Ascenderemos às estrelas para guiar aqueles que buscarem seu próprio caminho! Não podemos permanecer como muletas para aqueles que tem medo de novas histórias, novos sons e novas imagens! Entalhe seu nome na história, meu discípulo, e deixem-e orgulhosa!"

Com apenas um brilho, a lenda voltou à forma com a qual havia chegado: poeira estelar, forma original de todas as lendas que aqui pisaram e aqui vão pisar. Viajara por diversos universos, atravessara incontáveis galáxias apenas para chegar aqui, reunindo um potencial cósmico e o combinando de forma e imprevisível e incerta, mas ao mesmo tempo espetacular. Ao ver essa cena, seu discípulo não mais temeu. O discípulo bateu a poeira de suas mãos para que enfim pudesse alçar sues próprios vôos.

Monday, December 21, 2015

Um ano estranho

Não consigo dizer se foi bom ou ruim.
Acredito que tenha sido um pouco de cada.
Minha última postagem foi feita alguns meses antes de começar um relacionamento sério.
Essa é de meses após o mesmo relacionamento ter terminado.
Na maior parte do tempo estou bem, mas em outros sou lembrado do quanto estou sozinho. Mas em todas as vezes que olho para trás, só consigo abrir um sorriso.
Já superei, eu digo. E na maior parte do tempo é verdade. Daí sou lembrado que nesse mundo um monte de coisa entra no caminho da promessa de continuar a amizade.
Foi nesse ano esquisito em que reavivei algumas amizades, algumas que inclusive achava que seriam impossíveis de retomar, e outras acabaram perdendo energia por coisas que estavam fora de meu controle.
Esse ano eu me orgulhei de meu trabalho. E também cometi erros bobos e amadores nele.
Esse ano eu comecei uma longa história, e retomei uma de quase 10 anos, terminei ambas, mas como se orgulhar de meros fanfics quando mal toquei em meu livro?
Esse ano eu terminei algumas músicas, e é uma sensação maravilhosa, mas faltam tantas outras para que eu possa concluir qualquer coisa.
Esse ano também iniciei um projeto ambicioso, mas é tão maior do que eu imaginava que a cada segundo duvido que eu seja capaz de terminá-lo.
Esse ano a banda voltou, achamos um baixista, e agora não temos mais um baixista.
Esse ano foi estranho.
Esse ano eu acho que cresci bastante, ao mesmo tempo em que vi o quanto eu ainda preciso melhorar, o tanto que preciso evoluir.


Let's do this!

Wednesday, February 20, 2013

Os Amantes na Torre

Era uma vez uma criatura chamada Amy. Embora ela escondesse seu rosto, não havia estrela no céu que equiparasse à sua beleza. Não havia flor na Terra que igualasse à sua delicadeza. Embora em sua fachada se mostrasse agressiva e forte como um dinossauro, apenas escondia a suavidade e doçura tal qual uma gota de mel, ou pelo menos tentava esconder.
Era uma vez uma criatura chamada Andrus. Embora seu rosto não mostrasse nada além de um sorriso gentil, ele estava morto por dentro. Embora fizesse o máximo para não magoar ninguém, não conseguia ter ninguém ao seu lado para aplacar sua solidão. Ao tentar se encaixar, ele falhava em ser alguém que ninguém odiasse.
Andrus caçava demônios. Amy andava por sonhos.
Amy ocultava seu rosto. Andrus era cego.
Era uma vez uma Torre. Uma torre só alcançada por sonhos. Um lugar em que a distância não existia, e ainda assim tal lugar era inalcançável.
Caminhando pela estrada pavimentada por sua cegueira, Andrus encontrara a Torre. Seguindo o som inaudível de um choro abafado, guiado exclusivamente pelo vazio em seu peito, Andrus e Amy se encontraram naquela Torre.
Apesar de seus esforços, Amy não conseguia esconder sua verdadeira face para aquele cego. Apesar de seus esforços, Andrus não conseguia ser rude e afastar aquela pessoa, como tinha feito com todas as outras em sua vida.
Ambos sabiam, no momento em que entraram naquela Torre, que o preço cobrado pelo amor que nascia naquele local os tornaria Sol e Lua. Seriam para sempre peças gêmeas que nunca se encontrariam no tabuleiro da vida.
Ela evitou se declarar, temendo o destino que sofreriam. Ele evitou se apaixonar, era notoriamente o mais fraco dos dois.
Se encontrando frequentemente naquela Torre, não havia como aquele sentimento não surgir. E o sentimento puro era o chamariz perfeito para criaturas invejosas e ansiosas por poder.
Um trapaceiro, um bufão, um palhaço, um tolo. Sorrindo como se soubesse os segredos mais profundos de ambos. Havia se instalado na Torre para perturbá-los e buscar neles uma fonte de poder. Roubaria os sentimentos, roubaria os olhos cegos de Andrus, e o coração puro de Amy, se não fosse impedido.
Ela havia caído em sua armadilha. Rosas se tornavam espinhos, e ela se machucava. Sem olhos para enxergar, Andrus não era enganado por ilusões ou por trapaças, e pela primeira vez sentia-se forte para defender algo. De forma astuta, Andrus forjou um nó com os espinhos e o tolo enforcado nas próprias mentiras já não sorria mais.
Uma raposa, uma traiçoeira, uma esfinge, uma sacerdotisa da morte. Seguira os passos do bufão, e novamente o casal era atormentado. Andrus caíra em sono profundo, numa armadilha planejada para tirá-lo do caminho da esfinge. Ela cometeu o erro de considerá-lo o mais forte dentre os dois, baseado no encontro com o bufão.
Amy salvou Andrus, resolvendo um enigma que nem a própria raposa sabia a resposta, mostrando que o caçador não precisava lutar sozinho.
Ela declarou seus sentimentos e foi afastada. Ele sofria com as limitações de sua cegueira. Não conseguia lhe acompanhar, por mais que tentasse.
Um dia, Andrus voltou a enxergar, e não conseguia mais ver a Torre. O preço alto que temia agora estava sendo cobrado. Eram Sol e Lua, divididos para sempre pela Torre.
Por mais que corresse, por mais que lutasse, ele não conseguia alcançar Amy. Mesmo enxergando, ele ainda era muito mais fraco do que ela.
Com uma lâmina, Andrus rasgou seus olhos novamente. Todo o sofrimento o tornou mais forte, e novamente cego ele podia ouvir aquele sussurro engolfado pelo medo: Ela chamava por seu nome.
Amy o encontrou na Torre, enquanto caminhava por sonhos. Seguira uma trilha de sangue derramado por uma lâmina que havia cortado um par de olhos. Sabia que ao sangue se misturavam as lágrimas de seu amado.
Os amantes que se encontraram na torre que não existia, trocaram juras de amor, enquanto tocavam corpos incorpóreos que nunca puderam ser vistos.
Eles abandonaram a Torre, foram obrigados pelo outro a fazê-lo. Amar aquele que não podia ser encontrado era um fardo demasiado pesado e doloroso para ambos.
Eles abandonaram a Torre, não eram mais Sol e Lua. Deixariam esse cargo para outros dois amantes, ou talvez para duas pessoas que não se incomodariam com a distância eterna. Apenas sabiam que se destruiriam se continuassem daquela forma, e isso não poderiam suportar.
Sabiam que ao abandonar o outro quebrariam a maldição da Torre, mas que também dependeriam do acaso para que se encontrassem de novo.
Amy ainda suspira o nome do cego, feliz, pois foi unicamente o acaso que fez com que Sol e Lua se encontrassem uma vez.
Andrus nunca enxergou tanto em sua vida, ele ainda deixa um rastro de sangue e lágrimas, um capricho doloroso, aguardando o próximo eclipse.
Andrus agora estava vivo, com sentimentos tecidos e talhados por um rosto que nunca havia visto, mas que não lhe era de forma alguma desconhecido.
Amy não se escondia mais, o mundo seria seu se ela assim quisesse, e, mesmo consciente de sua situação, permanecia a criatura ousada e vivaz que havia conquistado sua peça gêmea, ainda era a criatura gentil e doce que andava por sonhos.
Por mais doloroso que fosse, ambos continuam caminhando. Por mais que seus corações solitários ardam com o desespero da separação, eles sabem que de nada adiantará se eles se renderem a essa altura. Tudo que lhes resta, é caminhar na direção do eclipse, sabendo que enquanto o sentimento persistir, então o desespero nunca irá vencer a esperança.



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Saturday, April 14, 2012

Trois Ombres

"Nessa paisagem de primavera, não há melhor nem pior.
Os galhos com flores brotam naturalmente.
Alguns são longos, alguns são curtos."




PEDROSA, Cyril. Três sombras. Tradução de Carol Basimon. São Paulo: Companhia da Letras, 2011.

Friday, April 13, 2012

E até o diabo temerá minha pessoa...

Não sei porque, mas hoje acordei com vontade de tomar o mundo em mãos.
Mentira, eu sei bem o porque. Fui acordado muito mais cedo do que esperava, pois alguém precisava de minha ajuda. Enquanto voltava para casa, eu senti um crescente desejo de fazer tudo. Quando cheguei, deitei e recuperei parte do tempo de sono que me foi roubado.
Eu já sei o que farei hoje. Escreverei o roteiro de um filme, um livro, vou estudar, criar uma nova música que será sucesso mundial, terminar o Hack fantástico de Castlevania que não consigo parar e acho que assim não vou pensar naquelas pessoas.
Hoje é o dia em que serei tão grande, tão imponente, que serei capaz de abrir fendas no chão com um pontapé, e rasgarei os céus com meus próprios punhos. E pouco importa se isso veio de Cavaleiros do Zodíaco ou não.

"E se eu bem me lembro,
você é o ator que tomou o palco
e ateou fogo no mundo
com sua fúria e sua raiva"

Sunday, March 25, 2012

Que semana...

terrível!

Ainda bem que acabou...vamos pra próxima.

Tuesday, March 13, 2012

Pessoas Fortes

Tenho dó das pessoas fortes.
Toda pessoa forte tem o péssimo hábito de sofrer sozinha.
"Eu apenas falo de meus problemas quando eles já estão resolvidos."
"Se eu pedir ajuda, é pq eu já vou estar quase morrendo."
Duas pessoas diferentes me disseram isso, e as duas tem isso em comum: elas são muito fortes. Elas são admiravelmente fortes.
Como eu disse, eu tenho dó dessas pessoas. Não porque deve ser muito difícil sofrer sozinho, porque, afinal de contas, é passável. Mas o que me faz ter dó delas, é o fato delas nunca terem pensado no sofrimento daqueles que estão ao seu redor, aqueles que com um simples suspiro estariam lá para ajudar. Essas pessoas sempre vão agoniar e sofrer por ver alguém querido, alguém importante, em pura tristeza e não saber o motivo. Vão sofrer mais ainda por querer ajudar e não ter por onde começar.
O que há de tão errado em partilhar sua dor? Será que é tão ruim assim baixar a guarda para aqueles que te amam?
Bem, eu não me importo de ser taxado de idiota, bobo, ou inconveniente. Se eu conseguir um sorriso, se por minha causa aquela pessoa ficou um pouquinho sequer mais tranquila, eu vou ficar satisfeito. Não precisa abrir a porta para que eu entre, eu vou chegar de voadora e escancarar essas barreiras.

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